segunda-feira, 22 de maio de 2017


Todo psicólogo deve defender a democracia, mas sempre sob a luz da constituição

Eu, Murillo Rodrigues dos Santos, psicólogo registrado sob o CRP 09/9447, mestre em psicologia, brasileiro, cidadão, venho por meio desta nota desabonar o Manifesto lançado no site e nas Redes do Conselho Federal de Psicologia, no dia 22 de Maio de 2017, pedindo eleições diretas no atual cenário político brasileiro.

É inegável que o atual momento político nacional exige a defesa da democracia acima de toda e qualquer questão, e que não existe tal defesa sem que se respeite o dispositivo legal máximo da nação que é a Constituição Cidadã de 1988, que foi construída à duras penas em nosso país para resguardar os direitos e deveres básicos de todo e qualquer cidadão.

Justamente pelo entendimento de não haver defesa da democracia sem defesa da constituição, é que me posicionei na APAF de Maio de 2017 (Assembleia de Políticas, Administração e Finanças do Sistema Conselhos de Psicologia) contrariamente ao pedido de eleições diretas no atual cenário político, por entender que a Constituição é clara no seu artigo 81 sobre:

Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.
§ 1º Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.
§ 2º Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores.

Pelo fato de não haver dispositivo legal para tal, me posicionei na Assembleia Constituída naquele momento*, defendo que se o Sistema Conselhos de Psicologia quisesse se posicionar em favor de Eleições Diretas, que não o fizesse à revelia da Constituição, mas em seu direito de defender, por exemplo, posição em favor da PEC 227/2016 (que versa sobre este tema).

Na minha fala àquele momento, também elenquei 10 pontos que devem ser pensados ao se falar em defesa de democracia, e não vi tais pontos espelhados na nota, e afirmo neste momento que não existem soluções simplificada para o atual problema político, e as simples eleições diretas, se fossem possíveis neste momento, não representariam nem 10% do que deve ser feito**.

Por entender que o manifesto, da forma como foi elaborado, não atende à legalidade, faço o meu desabono ao mesmo, pois enquanto delegado da Assembleia que o estabeleceu, não autorizo meu nome vinculado a este, pois conforme já dito por mim: "o Conselho Federal, ou nenhum outro Conselho Regional, pode se manifestar em desfavor da lei".

Goiânia, 22 de Maio de 2017

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* Na vídeo gravação da APAF de Maio de 2017, você pode conferir minhas falas no seguinte vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=vcZXW3fvxSs&t=5025s especialmente nos trechos entre 1:2:37:00 até 2:40:16 e o trecho entre 2:2:50:00 até 2:52:35.


** Os dez pontos que defendi na APAF em favor da democracia, no que diz respeito à reformas políticas você pode conferir entre os minutos 1:24:50 até 1:28:00.

terça-feira, 2 de maio de 2017


O que é o Family Trainning?
É um grupo de aprendizagem com famílias que desejam aprender como melhorar suas relações, através de uma metodologia inovadora, exclusivamente desenhada para o Projeto Psicologia Goiânia.

Qual é o objetivo?
Preparar as famílias para aprenderem a lidar melhor com os problemas específicos de sua convivência, gerando assim relações mais felizes.

Qual é o Público Alvo?
Casais ou famílias que estejam enfrentando alguma dificuldade, ou que queiram aperfeiçoar seu relacionamento.

Programação
MÓDULO 1 - Manual dos pais de primeira viagem: como os pais podem desenvolver relações mais saudáveis com seus filhos - Segunda Feira (08/05/17)
- Psicólogas Ludmila Rodrigues e Mylena Moreira

MÓDULO 2 - Sinais de adoecimento psicológico da família - Terça Feira (09/05/17)
- Psicólogas Carlla Muniz e Sofia Lemos

MÓDULO 3 - Trabalhando as diferenças no relacionamento de casal - Quarta Feira (10/05/17)
- Psicóloga Mariana Borges e Psicólogo Murillo Rodrigues

MÓDULO 4 - O uso de drogas no contexto da família - Quinta Feira (11/05/17)
- Psicólogas Mariana Carvalho e Sara Dutra

MÓDULO 5 - Como trabalhar as questões de sexualidade na família - Sexta Feira (12/05/17)
- Psicólogo Amador Carlos dos Santos e Psicóloga Steffi Queiroz

Valor do curso
Para mais informações sobre os valores do curso, entrar em contato através do formulário que nossa equipe enviará as informações por e-mail ou whatsapp.

Responsável Técnico
Murillo Rodrigues dos Santos - Psicólogo (CRP 09/9447) graduado pela PUC Goiás (Brasil) com formação em Terapia de Casais e Famílias pela Universidad Católica del Norte (Chile). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil), com Aperfeiçoamento Profissional pela Brown University (EUA) e Fundación Botín (Espanha). Coordenador do Projeto Psicologia Goiânia.

Informações e Inscrições
- Para informações de valores, preencher o formulário que nossa equipe entrará em contato.

- Estamos sorteando algumas bolsas de estudo para os interessados em participar da formação. Temos uma quota de bolsas parciais (50% de desconto) e integrais (100% de desconto) para todo o treinamento. Os interessados devem preencher nosso cadastro que entraremos em contato:



sábado, 8 de abril de 2017


É muito complicado para quem trabalha com consultoria empresarial, recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento, com uma postura menos assistencialista ou paternalista ter que ficar escutando a máxima: "o patrão é explorador, vai sempre querer pagar menos para os funcionários".

Patrões e empregados querem, via de regras, a mesma coisa: ganhar dinheiro! O que acontece é que existe uma diferença estrutural na forma como o fazem. Patrões, como diz a análise marxista, geralmente são donos dos meios de produção, e empregados são donos da força de trabalho. Apesar de que algumas pessoas, envolvidas por uma espécie de frustração travestida de marxismo, gostarem da bravata selvagem de que as relações de trabalho se dão por meio da exploração (e geralmente não apresentam muitos bons argumentos para isso, ou mesmo ignoram a dialética, que ironia). Eu prefiro pensar que as relações se dão por meio de trocas, e estas são baseadas em decisões de indivíduos livres (condicionados, porém livres) com mais ou menos racionalidade.

Como a reclamação se transformou em uma espécie de esporte nacional do brasileiro médio frustrado, ficou bem fácil pintar a figura do patrão malvadão que segue o capitalismo selvagem à risca, querendo pagar cada vez mais barato e exigindo cada vez mais produtividade, explorando seus funcionários. Geralmente quem faz esta crítica nunca abriu, auditou ou às vezes trabalhou em posições estratégicas dentro das mesmas.

Não estou dizendo que não existem relações de exploração no meio de trabalho, longe disso, existem, e muito! Mas o que quero dizer é que não podemos fazer uma análise tão simplista e unidirecional da coisa. Tanto patrões, quanto empregados, exploram! Sim, existe uma leva de empregados que exploram os recursos de suas empresas, muitas vezes de forma ilegal, ou mesmo abusam das relações de trabalho para, simplesmente, submeter seu chefe à um processo na justiça do trabalho e com isso lucrar algum dinheiro. E também existe o patrão que submete o empregado à condições insalubres, assedia moralmente, e quer pagar o pior possível.

O problema está na generalização: existem patrões e patrões, empregados e empregados, empresas e empresas! Será que é tão difícil enxergar isso?! "Ah, mas o Brasil tem uma cultura de patrões exploradores", assim como tem uma cultura de samba, e nem por isso estou cantando Jorge Aragão ou Bezerra da Silva aqui em Goiás.

No mundo real, onde existe competição empresarial, longe do oligopólio, dos cartéis e das regulamentações estatais abusivas, uma empresa precisa ter algumas coisas para sobreviver, crescer e gerar emprego e renda para o país: precisa ter um bom estoque (ou portfólio de serviços), precisa ter bons preços, precisa ter qualidade no que faz, um bom marketing, uma boa comunicação, mas acima de tudo, precisa ter um bom time! Os Recursos Humanos de uma empresa são o seu coração, e geralmente o fator que a diferencia de todos os demais. O que isso quer dizer?

Um das coisas que isso quer dizer é que: FUNCIONÁRIO BOM CUSTA CARO! Sim, geralmente baixos salários atraem funcionários com baixo perfil de desempenho, o que gera mais custo e menos produtividade para qualquer empresa. Logo, se Funcionário A, com baixa qualificação e experiência, e com um perfil comportamental não compatível com a empresa, custa R$ 1000, e devolve de lucro para a mesma R$ 3000, e se funcionário B, com boa qualificação, experiência e perfil comportamental afim aos valores da empresa, custa R$ 5000, mas devolve R$ 40000, o que você pensa que é mais lucrativo para o patrão? Manter um time grande (e consequentemente mais dispendioso) com baixo potencial, ou ter um time menor e que gera mais lucro? Por lógica, o menor! Mas daí você me diria: "Ah, mas ele quer um time menor para gastar menos e assim ter mais lucro"... é claro que queremos lucro, cara pálida, todos! Mas o que importa é o que se faz com tal lucro - um empresário inteligente transforma o lucro em investimento e forma novas empresas e mantém a engrenagem do crescimento da economia girando e empregando mais trabalhadores.

Acredito que algumas pessoas precisam entender que trabalho não é caridade, e patrão ou empregado não tem a obrigação de dar nada para ninguém: ambos devem se preparar para o mercado, estabelecer relações cordiais de respeito, montar uma equipe coesa e ambos enfrentarem os desafios do mercado.

"Mas, Murillo, porque afinal de contas as empresas pagam tão mal, mesmo assim?". Vários podem ser os motivos: 1) Excesso de regulamentação estatal, que eleva a carga tributária das empresas e impede o aumento exponencial de salários; 2) Falta de educação empresarial, que faz com que patrões com baixo preparo e entendimento de princípios de mercado ainda insistam em práticas capitalistas arcaicas do século XIX; 3) Falta de preparo da grande massa de trabalhadores, pois bons empregos geralmente existem, mas ficam nas mãos de pessoas mais especializadas, ainda que sejam de estrangeiros; 4) Falta de cultura empreendedora, pois qualquer um que estiver insatisfeito com seus ganhos poderia facilmente se aventurar no mercado (se tivéssemos condições adequadas para isso óbvio, pois isso no Brasil é quase um suicídio).

Enfim, o que quero dizer com este texto é que as coisas no mercado de trabalho não são tão simples assim, existem relações de troca e de exploração, claro, mas geralmente a questão da remuneração não é definida somente pelo empresariado. Precisamos, na verdade, criar um país com melhores condições de empreendedorismo, e com mais oportunidade de capacidade das grandes massas de trabalhadores e também educar alguns patrões, que ainda tem a cabeça no século XIX. Desta forma, é somente pensando complexamente o conjunto da obra que poderemos deixar de buscar soluções simplistas e messiânicas.
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Imagem: Extraída do Google Imagens.

Sobre o autor

Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447), graduado pela PUC Goiás (Brasil), com formação sanduíche pela Universidad Católica del Note (Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (EUA) e Fundación Botín (Espanha). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil). Psicólogo Clínico e Organizacional, coordenador do Projeto Psicologia Goiânia.

sexta-feira, 3 de março de 2017


Confesso que a descrença no bom senso coletivo tem me desanimado nos últimos dias, por isso estou começando a aderir a uma nova de espécie de "Psicologia da Zoeira", que consiste em uma mescla de sarcasmo com princípios psicológicos para ver se é possível gerar um pouco de processo reflexivo neste povo tão calejado com modismos seculares.

Nós temos a cultura de ter uma gente muito crédula, e isso em si não é problema, mas quando somamos este fato com o de que temos um baixíssimo índice educacional a coisa desanda: jogar na Mega Sena é a coisa mais inofensiva para um povo que acredita em Teologia da Prosperidade, "Pirâmides Financeiras" ou que investiu em Avestruz sem nunca ter visto um bicho destes no pasto, ou mesmo um bom bife deste animal sendo vendido num açougue qualquer.

Pois enquanto psicólogo, tenho um compromisso social com a verdade e com a crítica, tendo que tecer comentários, doa em quem doer, então por isso decidi fazer uma coletânea de questões interessantes que tenho observando, e estou lançando hoje para vocês, em primeira mão, a "Psicologia da Alquimia" (se você não entendeu, isso foi zoeira, só para deixar claro). E a propósito, este texto será mais ácido do que chupar limão azedo, então, vou ser bem malvadão, não repare, por favor.

Um dos primeiros princípios da Psicologia da Alquimia é afirmar que o que você está fazendo é novo, único ou maior. Se você está usando estes três termos você já está no caminho certo! Não importa se você está vendendo sacolé, afirme que seu sacolé foi feito por anjos cantores do deserto da Namíbia, que isso agrega valor ao seu produto. Esse tipo de coisa é que nos ajuda no movimento de criação da "Psicologia Gourmet", uma outra teoria que estou desenvolvendo. Algumas "igrejas", por exemplo, fazem isso, pegam uma água de torneira, colocam num pote bonitinho e falam que é a água abençoada do Rio do Polo Sul... Não preciso nem falar o resultado disso né!

A segunda base da Psicologia da Alquimia é uma coisa que eu chamo de Fenomenologia Reversa, e quer dizer que "A aparência é mais importante que a existência". Ou seja,  você pode ser o maior José Roela da Silva da cidade, mas se você for um José Roela da Silva esperto, andando de carrão (mesmo que seja emprestado), com um terno (mesmo que seja alugado), com um gel no cabelo (afinal de coisas, temos certa tendência a admirar coisas brilhantes) e souber falar algumas palavras bonitas (isso se aprende com treino), bingo! Ou seja, não importa se você é muito ruim em fazer algo, mas se você for "o melhor em ser ruim" não tem como não dar certo, mesmo que isso gere alguma frustração nos seus clientes.

O terceiro ponto importante é: Use nomes em Inglês ou Francês sempre que possível! Mesmo que esses nomes tenham correspondentes exatos na língua portuguesa. Vou fazer um parentese aqui (e sair um pouco do sarcasmo): existem termos e ideias que só podem ser expressados em outra língua, como por exemplo "Saudade" (Português), ou os termos "Eros" (Amor-Sexual), "Phileo" (Amor - Amistoso) e "Ágape" (Amor - Puro) do grego, que todos querem dizer amor, mas expressam significados diferentes. Mas daí a usar as palavras "Dashboard" (Painel de Controle), "Staff" (Pessoal) e "Budget" (Orçamento) parece ser mais para forçar a barra para usar "termos chiques"... dá um ar de mais autoridade, sabe!

O quarto ponto, e este é importante: brasileiro geralmente tem uma certa "tara" com figura de autoridade, por isso sempre vale relembrar o Princípio do Argumentum Ad Verecundiam (do latin "Argumento de Autoridade"), que é o seguinte. "Venha conhecer a famosa técnica do Dr. João das Couves, ele que é médico formado em Harvard, astronauta pela Nasa, jogador de futebol do Real Madri, morreu e ressuscitou três vezes e viajou ao céu cinco vezes". Geralmente, o Dr. João das Couves vai citar que "pesquisas comprovam meus estudos, dizendo que o melhor método de todas as galáxias", mas nunca vai mostrar quais são estas pesquisas. Também tem a versão do "eu fiz essa descoberta fantástica", mas nunca fala como, ou nunca mostrou em qual pesquisa séria que ele descobriu tal fato, muito menos submeteu seus dados à análise de pares científicos, simplesmente diz "eu fiz essa coisa maravilhosa!" (Uai, que "phodda!").

E para reforçar, e por penúltimo, coloque um prefixo (sufixo também vale) de impacto, ou siglas no que você vai fazer: os prefixos da moda, geralmente, são "neuro...", "Coaching...", "Feedback...", "Terapia de...". Se você colocar os prefixo, não importa se você está prometendo uma "Terapia Ufológica Ectoplasmática" ou um "Neurocoaching Business Style", já é 50% de sucesso... A base científica... não se preocupe, ninguém quer saber se o que você está fazendo é amparado por dados, evidências ou se é bem amarrado filosoficamente.

E por último, onde todos os pontos devem desembocar, destaco a necessidade de se impressionar as pessoas a todo e qualquer custo... Ao se apresentar, se for em público, contrate pombas brancas que voam em círculos, ou uma chuva de confetes folheados a ouro, ou mesmo uma cascata de fogos de artifício... ao falar, demonstre domínio sobre o assunto, mesmo que você esteja discutindo sobre a profundidade de poças de água no asfalto.

Mas para terminar este texto, vou abandonar um pouco o sarcasmo, e dizer o seguinte: os pontos acima, na verdade, são muito utilizados até mesmo em campanhas de marketing, e isso não tem nada de errado. O problema é que o marketing diz respeito à forma, e para ele ser justo, deve corresponder a um bom conteúdo. Como dizia minha avó "por fora, bela viola, por dentro, pão bolorento" não pode fazer parte da psicologia - podemos e devemos ter sim um bom marketing, mas temos, por obrigação ética, que entregar conteúdo de qualidade para respaldar aquilo que estamos prometendo.

No fim, este texto é um alerta para você, psicólogo ou consumidor de psicologia: se você não prestar atenção, pode estar comprando porcaria e pensando ter encontrado uma mina de ouro. Mas para que é importante escrever um texto como este? Para ajudar na reflexão sobre a qualidade do que estamos consumindo.

Um "good bye procêis"!
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Imagem: Extraída do Google Imagens. 


Sobre o autor

Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Brasil), mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (EUA) e Fundación Botín (Espanha). Diretor do Projeto Psicologia Goiânia... Ah, e para não parecer um "Verecundiam"... clica aqui que você pode verificar o meu Lattes... =D

quarta-feira, 1 de março de 2017



Você, que já é ou quer ser psicólogo(a) clínico(a), já pensou em atender por planos de saúde? Se sim, você não está longe da média nacional, pois esta é uma das formas mais utilizadas pelos profissionais da psicologia para começar a se estabelecer na área clínica. Mas neste texto eu quero abordar um problema que muitos, se não pensaram, precisam pensar, ou talvez não tenham coragem de abordar diretamente: os planos de saúde não são, nem de longe, a melhor forma de se trabalhar com psicologia clínica!

Então, deixe-me expor alguns problemas para você: você acabou de se formar, está empolgado com a possibilidade de começar a clinicar, paga a sua anuidade do Conselho, entra em contato com uma clínica para começar a atender e, de repente, vem a possibilidade de atender por plano de saúde... você, de cara aceita, afinal de contas, quem pode recusar clientes?

De repente você cuida de toda a papelada para se cadastrar no plano de saúde, e quando já está com quase tudo pronto, descobre o valor de tabela que o plano paga: R$ 17,50 por consulta! Você fica desapontado! Estudou anos de sua vida para receber R$ 17,50 por consulta... mas logo pensa, "calma, deve ser só esse, vamos tentar outros"... daí percebe que as tabelas de planos de saúde pagam R$ 15,00; R$ 28,30 ou quando paga muito bem R$ 37,90... desanima novamente! Afinal de contas, você se lembra de quanto era caro o boleto que você pagava nas mensalidades de sua graduação ou pós.

Só que você está começando, ou recomeçando, e daí pensa: "Vou aceitar, isso é só o começo, não posso ficar parado!". Só que você não faz as contas de que, se atender pelo primeiro plano, o de R$ 17,50, você precisará de atender 100 sessões por mês para garantir menos de R$ 2 mil de salário, o que corresponde a ter 25 clientes deste plano. Ou seja, você precisará de uma jornada de 4 dias, atendendo 6 horas, para chegar a incríveis R$ 1750,00. Complicado, não!?

Mas de qualquer forma, você é uma pessoa humilde, e sabe que em tudo na vida a gente tem que começar por baixo, e se arrisca a entrar nesta dinâmica. Daí você começa a atender, mas percebe que não consegue lotar sua agenda, pois você não é o único psicólogo que atende por plano na região, e de repente percebe que vai demorar muito até ter os seus 25 clientes, mas daí começam os outros problemas.

Além de receber poucos clientes, e receber pouco dos planos de saúde, você começa a ter problemas com alguns planos: a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão do governo que regula o atendimento dos planos, garante ao cliente de psicoterapia o mínimo de 18 sessões, o que já é pouco para determinados procedimentos psicológicos, mas alguns planos não respeitam isso, por mais que esteja em lei - alguns limitam a 8, outros a 12 sessões. E para piorar, alguns planos de saúde só permitem que a pessoa faça psicoterapia se ela tiver um aval médico antes, ou seja, ela primeiro vai ao psiquiatra, e este permite ou não que ela faça terapia.

No caso da liberação médica, isso é no mínimo um desrespeito à autonomia do profissional de psicologia, pois este é que tem condições de realizar o diagnóstico necessário da necessidade ou não da pessoa fazer psicoterapia. Psiquiatras e psicólogos possuem formações e visões de sujeito totalmente diferentes, o que resulta em diferentes prescrições terapêuticas. Isso é tão grave que, desrespeitando a autonomia do psicólogo, o sujeita à "permissão" do médico, como se fôssemos seus meros assistentes, o que de fato não somos!

Mas a coisa não termina por aí, se o psiquiatra for um profissional que entende o valor do trabalho multiprofissional e respeita o trabalho da psicologia, ele irá liberar o indivíduo para a terapia, só que, alguns planos exigem reavaliações mensais para saber se a pessoa continua ou não na psicoterapia! Isso chega a ser ridículo, pois parece que o plano faz de tudo para o cliente não fazer psicoterapia. Mas isso ocorre com alguns planos, ok, não com todos! Mas infelizmente tem se tornado tendência: somente em em Goiânia já contabilizei 4 ou 5 que estão fazendo isso!

Mas para piorar, quando não ocorrem estes entreveros com os planos, você atende o cliente por 2 ou 3 meses, e no final, quando vai receber, alguns planos de saúde simplesmente Glosam as Faturas. O que isso quer dizer? Simplesmente o plano decide não te pagar as sessões porque você "preencheu um campo errado no formulário", "houve divergências nos dados do cliente", "faltou uma assinatura" ou mesmo "houve erros de digitação"... Enfim, você atende dois, três meses, para na hora de receber escutar um "ha há, glu glu ie ié"... parece brincadeira, mas não é.

E por último, um dos maiores problemas que tenho encontrado com amigos(as) psicólogos(as): o plano simplesmente atrasa o pagamento. Tem um plano de saúde em Goiânia que não paga os psicólogos conveniados desde Agosto de 2016 (estamos em Março de 2017). E simplesmente não dá previsão de pagamento.


Daí eu te pergunto: compensa passar por toda esta saga, trabalhar várias horas por semana, não ter flexibilidade de horário, ganhar pouco e ainda se submeter à esta burocracia? Eu te digo que não! Não é bom para o(a) psicólogo(a) se sujeitar a este tipo de situação, pois ele tem contas a pagar e quer viver bem fazendo aquilo para o que se formou. Mas tem outro jeito? Sim, tem!


Infelizmente o(a) psicólogo(a) ainda não aprendeu a trabalhar para ele mesmo! Ser profissional liberal, autônomo, patrão de si próprio. Mas isso ocorre porque o atual sistema de pensamento condicionou o psicólogo recém chegado ao mercado de trabalho a não dar conta de trabalhar por conta própria! Eu vejo e percebo isto de perto, pois desde que me graduei psicólogo tenho acompanhado uma centena de profissionais e percebido os erros e acertos de grande parte deles.

Se você quer romper com essa cadeia de pensamento e condicionamentos que te levam a uma lógica de trabalho empobrecedora, venha fazer parte de nossa equipe! Conheça o programa Start'Upsi, que vai trabalhar as habilidades de um grupo muito seleto de psicólogos para inserção no mercado clínico em Goiânia. Quer saber como funciona o projeto? Clique aqui.

Enfim, quero me despedir de você dizendo que há esperança, basta não se sujeitar às lógicas empobrecedoras do mercado e pensar fora da caixa. Eu estou te propondo uma alternativa para se livrar desta rotina cansativa e desvalorizadora. Se quiser, venha conosco, mas de qualquer forma, nos vemos lá na frente.

Boa sorte!
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Sobre o autor:

Murillo Rodrigues dos Santos, psicólogo (CRP 09/9447) graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Brasil), com formação em terapia de casais e famílias pela Universidad Católica del Norte (Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (EUA) e Fundación Botín (Espanha), com formações em gestão e empreendedorismo pela Fundação Finnovarregio (Bélgica), Fundação Estudar (Brasil) e Fundação Getúlio Vargas (Brasil). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil). Diretor do Projeto "Psicologia Goiânia".

terça-feira, 31 de janeiro de 2017


Esta semana, lendo os comentários de uma matéria jornalística no Facebook, me deparei com o seguinte comentário: “daqui a pouco vem algum psicólogo falar alguma baboseira”... ri! Mas talvez devesse ter chorado, ou ficado com raiva. Mas ri, talvez por um sinal de abstração ou forma de sublimar a raiva passageira de ver comentários depreciativos a respeito de algo que é tão caro para mim: a psicologia.

Mas o rapaz que fez este comentário não estava de todo errado, e lhes conto por que penso isto. Nos últimos anos tenho acompanhado o trabalho de algumas dezenas de psicólogos, muitos deles na área clínica, e tenho visto a grande dificuldade que alguns possuem de ter um pensamento e expressarem-se de forma objetiva, concisa e apresentarem argumentos coerentes com uma lógica clara diante de questões que envolvem a sua profissão. Como isso estava me preocupando!

Conversando com outros dois colegas psicólogos, muito talentosos (diga-se de passagem), durante a semana, cheguei a conclusão de que estes também tinham as mesmas impressões que eu tenho: falta assertividade na atuação de muitos psicólogos.

O que isso quer dizer? Vou dar vários exemplos. Tenho conhecido alguns colegas que tem problemas sérios em oferecer feedback terapêutico, ou seja, possuem uma deficiência tremenda na habilidade de fazer pontuações terapêuticas. Alguns deles simplesmente ocupam o papel de contentores de catarse, ou seja, simplesmente sentam na frente do cliente e os escutam por uma hora a fio, ou ficam observando-os chorarem compulsivamente, sem entregar a menor devolutiva para o cliente. Outros falam, falam, falam e não dizem nada.

Sei que existem sessões onde é necessário conter a ansiedade do cliente, em que ele demanda às vezes todo o tempo com uma fala acelerada ou ansiosa, mas também existem momentos em que o terapeuta deve fazer pontuações a respeito da fala, em sua forma ou conteúdo, das expressões, da crença ou da organização psicológica do sujeito e não o faz, por alguns motivos, e vou listar alguns:

Ele tem medo, simplesmente, e este pode ser de estar errado em sua pontuação, ou de ser rechaçado pelo cliente. Mas em muitos momentos o psicólogo, quando está nesta situação, tem medo de ser julgado, e este é um grande problema, que vai envolver muita autoanálise e/ou terapia por parte do profissional. Assumir a cadeira de psicoterapeuta é assumir o risco do erro, e digo mais, é lidar com o erro em toda sessão, pois nunca sabemos o que virá do cliente e devemos assumir o lugar do não saber, pois no final das contas não temos a verdade absoluta sobre o comportamento/vida do sujeito que está em nossa frente, só podemos nos certificar de fazer o nosso melhor para disparar um processo reflexivo tão eficaz quanto possível;

Ele não aprendeu. Sim, muitos estudantes de psicologia saem da faculdade com centenas de horas de aula sobre escuta, atenção, empatia, mas quando têm que executar e devolver algo de construtivo ao cliente, travam, porque simplesmente não aprenderam os métodos de análise de discurso, análise de conteúdo, análise de núcleo de significação, ou qualquer coisa que se aproxime de uma hermenêutica (aliás, a maioria não sabe o que é hermenêutica – se você é uma dessas pessoas, tire dois minutinhos para ir dar uma Googlada, voltar e terminar este texto, você não vai se arrepender). Em terapia não basta somente receber, é preciso entregar!

O psicólogo pensa, de forma equivocada, que estará influenciando o cliente: alguns terapeutas acreditam que se fizerem pontuações, perguntas ou mesmo observações a respeito de questões que lhe chamaram atenção, estarão influenciando o cliente. Tenho uma notícia para vocês: psicoterapia não é laissez-faire! Você não pode simplesmente deixar com que ela siga descontroladamente sem objetivo, isso faz com que se torne muito difícil mensurar os resultados ou mesmo apontar um caminho objetivo de mudança na vida de um sujeito que, muitas vezes, já está bastante desnorteado. Respeito as teorias que dizem que não se deve influenciar o cliente, é claro, e acredito nelas, mas também acredito que o cliente, no processo terapêutico não é um simples boneco de posto que se agita para onde o vento sopra! É preciso empoderá-lo para que este, inclusive, questione o terapeuta, discorde, pois são nestas tensões em que se estabelece um clima de reflexão sobre os sentimentos/pensamentos/desejos do sujeito. A herança das epistemologias clássicas na psicologia ainda faz com que muitos profissionais tenham medo de estarem interferindo na vontade do cliente, mas eu tenho uma novidade pra você, meu amigo – você está interferindo na vontade/pensamento/afeto daquele sujeito o tempo todo, assim como ele o faz contigo, pois você é outro sujeito em contato com ele, e é nesta interação que se constroem sentidos e significados! Não é possível ser neutro, pois até a sua pretensa neutralidade é entendida e recebida pelo cliente de uma forma nada neutra (já é extremamente questionável a questão da neutralidade nas relações sujeito/objeto, imagine nas relações sujeito/sujeito). Note que não estou dizendo que o terapeuta “deve dizer ao cliente o que fazer”, mas que este não precisa ser uma árvore plantada no consultório. Quem define o que fica e o que sai da terapia é o cliente, ele é o fator ativo na relação, o psicólogo é o gerador do processo reflexivo, então, quem conduz o processo é o sujeito que dele necessita e que a ele constrói, conforme ele se permite.

Outro grande problema é quando o psicólogo somente repete as palavras do cliente com uma entonação diferente, ou só devolve uma pergunta vaga. Essa é muito comum, e me desespera bastante! Acredito que isto se dá devido a uma grande falha interpretativa da capacidade de fazer síntese. Tem gente que acha que fazer síntese é somente devolver a afirmação em formato de pergunta, mas NÃO! NÃO, POR FAVOR, NÃO! Fazer síntese é encontrar a tese e a antítese de uma questão e colocá-las para brigar! Bingo! Veja o que sobra dessa briga de galos e entregue ao cliente, veja o que ele faz com o produto. Será encantador!



Outro exemplo de falta de assertividade é quando o terapeuta fala coisas desconexas, não consegue concluir um silogismo (essa também vale uma googlada, vai lá, até eu googlei pra me relembrar e ter certeza do que se tratava... hehehehe), apresentar uma relação causa/efeito linear ou circular, ou mesmo tem problemas de fala. Você trabalha com a linguagem, a linguagem é um conjunto de signos que constroem as relações sociais que por sua vez constroem as relações psicológicas, que por sua vez reconstroem as relações sociais! Brow, adivinhe onde você terá que intervir na maioria das vezes?! Bingo novamente, na linguagem! Na clínica, muitas vezes, a linguagem é o canal de materialização de coisas imateriais, como sentimentos, pensamentos, desejos e crenças, e você precisa igualmente manejar este instrumento. Então, falar a linguagem do cliente de forma clara, concisa e objetiva é importante. Neste ponto também é importante destacar a necessidade de se tomar cuidado com a prolixidade, pois em muitos momentos ela pode ser importante, em outros, pode ser uma catástrofe.

Esta é a penúltima: alguns psicólogos, por alguma delicadeza, descuido ou problema pessoal, acabam projetando excessivamente suas questões psicológicas nos clientes. É o caso de uma terapeuta de casais que eu conheci que, ao realizar sessões separadas entre esposo e esposa, contava toda a vida pessoal para a cliente, chorava com ela, e dava “conselhos” para que ela se separasse, ao passo que quando atendia o homem, fazia uma postura mais distante, fria e até impassível. Isso é outra coisa que vai ter que levar o profissional à terapia e supervisão! Não há nada demais em se emocionar com os seus clientes, em muitos momentos isso até fortalece a relação, o que não se pode é transformar o setting terapêutico em um lugar de “conversa de compadre/comadre”. Psicólogo está ali como um cientista, como um profissional, e não como um amigo/conselheiro! Então, que haja como tal.

Por último, alguns psicólogos fogem do feedback, ou não dão conta de trabalhar as demandas porque simplesmente fogem das perguntas de seus clientes: muitas vezes o cliente quer saber o porque está acontecendo X-Comportamento em sua vida, mas o psicólogo insiste em conduzi-lo da seguinte forma “não precisamos saber do porque, mas sim do ‘como’”. Oras, em muitos momentos é sim, preciso tirar a neura do cliente em querer saber de forma obsessiva o porquê das coisas, mas também pode ser necessário desvendar o processo de constituição do problema, isso leva também ao por que. Às vezes será preciso indagar-se não somente o como, ou o porque, mas o quê, onde, quando, , quanto custa.

Algumas questões que eu tenho aprendido com a Teoria da Complexidade e desenvolvido no meu fazer enquanto psicoterapeuta são as seguintes: o psicólogo pode e deve fazer sínteses daquilo que é trazido pelo cliente sempre que possível; o psicólogo também deve apontar as contradições do sujeito, pois estas fazem parte da constituição de todos, e a reflexão sobre este ponto é um poderoso fator de desenvolvimento e gerador de insights terapêuticos; o psicólogo deve confrontar crenças disfuncionais do sujeito, ainda que de forma sutil, mas mostrar que nem tudo o que o cliente acredita pode ter fato com a realidade (isso é mais do que necessário, especificamente para aqueles que têm problemas com narcisismo); o psicólogo deve estar aberto ao que o cliente trouxer, e que este não deve fazer de tudo para enfiar o cliente dentro de técnicas específicas, mas estar sensível para o que este demandar, estando sempre amparado por uma forte consciência de seu referencial teórico.

Enfim, vou deixar algumas dessas reflexões para depois, porque vão alongar demais o texto, mas queria mostrar que, muitas vezes e infelizmente, temos presenciado situações em que os psicólogos, especialmente os clínicos, precisam aprender a trabalhar com maior assertividade, maior consciência de sua posição teórica e prática, e passarem a oferecer, de fato, algo útil para aqueles que o procuram, não simplesmente uma chuva no molhado, uma saudação à mandioca ou um show de tautologias (essa foi a última palavra difícil da noite, gente, prometo, beijo no coração de vocês!).

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Imagens: Extraídas do Google imagens

Sobre o autor:


Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) graduado pela PUC Goiás (Brasil), com período sanduíche e formação em Terapia de Casais e Famílias pela Universidad Católica del Norte (Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (EUA) e Fundación Botín (Espanha). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil). Psicólogo clínico, professor, diretor do Projeto “Psicologia Goiânia”, Conselheiro do CRP-09 (IX Plenário), e está planejando seu projeto de doutoramento em Psicologia.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017



Assim como água e óleo, a psicologia não deveria se misturar com algumas coisas. Mas assim como existem os agitadores, que por vezes fazem o óleo quase mesclar-se com a água, ficando um líquido meio viscoso, existem pessoas que, infelizmente misturam coisas que não sintetizam: psicologia e astrologia, psicologia e autoajuda, psicologia e religião, etc.

Ao analisar o desenvolvimento da psicologia, notamos que a mesma é constantemente atacada por diversos flancos, mostrando a existência de vários perigos para a subsistência desta como ciência: um destes perigos, que apareceu em meus estudos sobre epistemologia da psicologia, é o do modismo teórico.

O modismo teórico se caracteriza quando profissionais abraçam uma prática pretensamente científica sem a devida reflexão sobre as suas implicações epistemológicas, ontológicas e metodológicas, gerando uma atuação instrumentalista, alienada e perigosa. Como assim? Simples! Lembre-se do grande filósofo Chicó (de o “Auto da Compadecida”), com seu célebre adágio: “Não sei, só sei que foi assim!”.




Sim, tem muito profissional fazendo um monte de não sei lá o que, sem saber como funciona, indo pela “intuição”, guiando-se pela mera experiência irreflexiva, sendo levado pelo vento... trabalhando com pessoas! Uma das condições para uma prática ser científica é a sua capacidade de descrever a realidade, e olha que estou sendo modesto nesta definição, pois algumas pessoas mais “ortodoxas” diriam que ela teria que ser capaz de executar certo nível de previsibilidade.

Mas enfim, para ser ciência, uma prática precisa estar ancorada em uma série de princípios sistematizados que dão sustentação a um corpus teórico: esta base precisa de pelo menos (estou sendo modesto novamente) um tripé bem definido – epistemologia, ontologia e metodologia. E para ser menos modesto, ainda diria que para ser ciência, esta prática deve se preocupar com seu caráter ético e estético. Como assim?

Uma ciência precisa saber bem sobre o objeto que está falando (ontologia), como pode alcançar um conhecimento sobre este objeto (metodologia) e ainda assim, se este conhecimento é válido, compatível com a realidade (epistemologia) – este é o tripé. Cumpridas estas etapas, ainda precisamos perguntar, para que tal conhecimento serve, ou a quem ele serve e por que (ética) e também como este conhecimento se apresenta (estética).

Ou seja, não é fácil fazer ciência! Tanto não é que, por conta disso, a psicologia caiu em vários modismos teóricos até chegar aqui, ainda cambaleante, na tentativa de separar o que é fato do que é mito. Um grande exemplo disso foi a Frenologia, criada próxima da época da formalização da psicologia enquanto ciência, e por muito tempo fez parte do arcabouço teórico desta.

Para quem não sabe, a Frenologia foi uma pseudociência fundada por Franz Jospeph Gall (1758-1828) por volta do ano 1800, e dizia ser capaz de descrever a personalidade, o caráter ou algumas funções metais da pessoa graças ao formato da caixa craniana do indivíduo. Segundo esta teoria, o cérebro de cada pessoa teria áreas específicas mais desenvolvidas, o que acentuaria a caixa craniana da pessoa, marcando alguns traços de personalidade, por exemplo. Assim, uma pessoa que tivesse a parte de trás da cabeça mais proeminente, por exemplo, poderia ser considerada uma pessoa “sábia” (foi só um exemplo aleatório, não sei como eles interpretavam cada parte específica da cabeça). E assim, temos vários modismos na psicologia, alguns dos quais são bastante contemporâneos, como por exemplo: PNL, Neuro-tudo-o-que-você-puder-imaginar (teve uma época há não muito tempo em que pegaram a palavra “neuro” e colocaram como prefixo para qualquer coisa, simplesmente para vender), e agora o tal do “coaching”.

Mas o que tem o tal do coaching? Muita coisa!

Para começar o coaching é uma “salada” metodológica, com fraca base epistemológica, e com ontologia desconhecida. Primeiramente, vamos tentar definir o tal do coaching:

DEFINIÇÃO 1: "Coaching é um processo que visa elevar a performance de um indivíduo (grupo ou empresa), aumentando os resultados positivos por meio de metodologias, ferramentas e técnicas cientificamente validadas, aplicadas por um profissional habilitado (o coach), em parceria com o cliente (o coachee). (Villela Da Matta & Flora Victoria)” – Sociedade Brasileira de Coaching (SBC);

DEFINIÇÃO 2: “Há diversas teorias sobre a origem do termo “coach” no contexto do desenvolvimento de pessoas, mas, em algum lugar da história, ele compartilha um ancestral comum com o verbo em inglês “coax”, que significa PERSUADIR. O profissional de coaching atua como um ESTIMULADOR externo que desperta o potencial interno de outras pessoas, usando uma combinação de flexibilidade, insight, perseverança, estratégias, ferramentas pautadas em uma metodologia de eficácia comprovada e, então, o Coach (Profissional) acompanha seu Coachee (Cliente), demonstrando interesse genuíno (às vezes chamado de carisma) para APOIAR os seus clientes de Coaching (Coachees) a acessar seus recursos internos e externos e, com isso, melhorar seu desempenho.” – Sociedade Latino-americana de Coaching (SLAC);

DEFINIÇÃO 3: “Coaching é a maior e melhor metodologia de desenvolvimento e capacitação humana existente na atualidade e a carreira que mais cresce no mundo. Um mix de recursos que utiliza técnicas, ferramentas e conhecimentos de diversas ciências como a administração, gestão de pessoas, psicologia, neurociência, linguagem ericksoniana, recursos humanos, planejamento estratégico, entre outras visando à conquista de grandes e efetivos resultados em qualquer contexto, seja pessoal, profissional, social, familiar, espiritual ou financeiro. Trata-se de um processo que produz mudanças positivas e duradouras em um curto espaço de tempo de forma efetiva e acelerada.” - Instituto Brasileiro de Coaching (IBC);

DEFINIÇÃO 4: “O Coaching é um método usado largamente mundo afora tanto no contexto profissional como no pessoal. Essa metodologia prestigia a estrutura racional e cognitiva do cérebro. No processo de coaching, o primeiro passo é estabelecer o estado atual, ou seja, todos os detalhes da situação atual do cliente. O segundo passo é estabelecer detalhadamente onde o cliente quer chegar (estado desejado). Tendo estabelecido estes dois pontos, o coach conduz seu cliente na elaboração de um minucioso plano de ação que fará o cliente trafegar da posição 1 (estado atual) para a posição 2 (estado desejado) em um tempo recorde. De forma ainda mais resumida, o coaching promove o desenvolvimento e a potencialização das competências pessoais.” Federação Brasileira de Coachng Integral Sistêmico (FEBRACIS);

DEFINIÇÃO 5: “Coaching é um processo de aceleração de resultados onde é estabelecido um relacionamento de alto nível entre o Coach e o coachee (cliente) com o propósito de alavancar seus resultados na vida pessoal e profissional gerando assim um aumento significativo nos níveis de energia, plenitude e felicidade” - Academia Internacional de Coaching (AIC).




Vou apontar alguns problemas: o primeiro deles é a ausência de referenciais acadêmico-científicos nestas definições. Uma busca rápida nos portais indexadores de Revistas Científicas (Scielo, BVS Psi, etc.) quando não mostrarem a ausência de textos, vão mostrar textos muito ruins que nem deveriam ser considerados científicos, e que também terão dificuldades relevantes para definir o que é coaching. De todos os sites pesquisados, o que apresentou maior cuidado para mostrar algum histórico ou fundamentação teórica para o que vem a ser coaching, foi o da DEFINIÇÃO 5 (AIC). Mesmo assim, o que foi relatado no site, necessita ser melhor esmiuçado e faz associações históricas um pouco imprecisas.

Segundo, em vários momentos os sites que vendem a formação em coaching dizem que vão apresentar um método “altamente comprovado”, mas nunca mostram quais são as evidências em que se baseiam tais comprovações. Não apresentam artigos científicos, pesquisas, correlações válidas, etc.

Terceiro, o coaching é, conforme já dito, um mix de coisas, e isso é muito sério filosófica e cientificamente. Como assim? Isso é o que chamamos de ecletismo teórico – a pessoa pega as partes que interessa da teoria, junta elas em um mesmo “bolo” sem ter a preocupação epistemológica de trabalhar a coerência de seus pressupostos, o que gera uma prática altamente instrumentalista. Vou dar um exemplo: “O cara faz uma formação de 6 semanas para ser “Life Coach”, daí, durante um de seus trabalhos, entra em contato com um grande trauma de vida de um cliente, e este, durante o confronto pessoal, sofre um processo de regressão à primeira infância (deita no chão em posição fetal, começa a babar e chorar) e fecha-se neste quadro catártico. O que esse coach vai fazer? Provavelmente, NADA! Isso porque ele não está preparado para lidar com aspectos profundos da personalidade, do desenvolvimento social, cognitivo e afetivo daquele sujeito. Quem dirá lidar com o simbólico daquele sujeito! Isso mostra  o perigo de trabalhar com práticas ecléticas, pois como diriam Berger e Luckmann (1980), são recheadas de conhecimento receitado, o que quer dizer que se algo sair pelo menos um pouco fora do script, dificilmente haverá um plano de contingências.

Quarto, o coaching, como temos visto hoje, está recheado de um personalismo mercadológico que é feito simplesmente para marketing e venda. Vários sites de coaching dizem que possuem o “método mais atual”, ou “o melhor método do mundo”, “Reconhecido internacionalmente pela instituição X”, ou coisa do tipo. Geralmente estes sites dizem que tal ferramenta foi “elaborada pelo palestrante TAL que trabalha há TANTOS anos formando pessoas”. Ora, isso é uma falácia clássica (anunciado ou raciocínio falso que tem aparência de verdadeiro), a do Argumentum ad Verecundiam (Argumento de Autoridade), que diz “se o fulano de tal disse, então é verdade” (oras,esse tipo de argumento é tolice! Até os grandes PhD’s se enganam, e não é porque uma pessoa é uma autoridade que tudo o que ela diz é verdade!). Mas a moral da história é que esse tipo de argumento e utilizado para: 1) Vender peixe; 2) Vender o pescador. Afinal de contas, que moral tem uma pessoa que “criou um método internacional” não é mesmo?!

Quinto, e aqui também vou me referir a estética do coaching: este é vendido como um produto milagroso! Como se ele fosse capaz de resolver todo e qualquer problema possível de determinado conjunto de questões. Essa espécie de soberba metodológica é totalmente anticientífica! A ciência pode ser entendida como uma tentativa temporal de descrição, explicação e/ou previsão de parte da realidade possível, e pauta-se sobre a tentativa e erro organizadas de modo sistemático. O coaching, da forma com tem sido, tem utilizado-se de uma espécie de proselitismo epistemológico, dizendo que é o maior, o melhor, o mais avançado ou o mais não sei o quê! Em muitos momentos, desculpem a minha acidez mental, parece uma propaganda de igreja neo-pentecostal para atrair membros, quando não, uma espécie de marketing multinível.

O sexto ponto que apresento contra o coaching também está no nível do estético, cruzando com o metodológico, quando o coaching reifica o seu objeto. Hã? Isso é de comer ou passar no cabelo, Murillo? Reificação é um termo que significa “coisificar” (Abbagnano, 2007), ou seja, quando o coaching constrói um discurso de que é preciso tratar uma questão relacionada ao psiquismo ou comportamento humano simplesmente objetivando o resultado. Oras, a psicologia já nos mostra que as coisas existem (inclusive as dificuldades psicológicas) por que são função de algo, ou seja, se eu tenho medo de andar de carro, esse medo existe porque, muito provavelmente, sustenta algum tipo de questão mais profunda no desenvolvimento da personalidade do sujeito. E o coaching não parece estar muito preocupado com questões filosóficas de base na existência das pessoas, salvo algumas exceções.

Mas depois de tanto falatório, vou terminar mostrando o sétimo ponto: o coaching é uma atualização recauchutada de termos psicológicos, administrativos, dentre outros, misturados, com nome em inglês, e com uma boa dose de impressionabilidade. Tem muita gente por aí tentando distinguir coaching de psicoterapia... alguns vão até bem longe nisso, mas esquecem-se que desde que a psicologia existe no Brasil, enquanto profissão (1962), além de psicoterapia, os psicólogos realizavam orientação profissional, vocacional e de carreira, aplicavam testes, dentre outras questões que cruzavam a prática da psicologia clínica e organizacional. Coaching é só um nome bonito, pintado em inglês (afinal de contas, nossa colonização cultural adora termos gringos), que camufla uma prática eclética perigosa, instrumentalista, mal fundamentada, que acaba por entregar um mix de psicologia capenga, com autoajuda, neo-pentecostalismo secular e impressionabilidade hipnótica.

Quando psicólogos passam a se chamar de “Coaches”, em minha opinião, esquecem-se que estudaram pelo menos 5 anos desenvolvendo trabalhos em teorias da personalidade, psicologia social, desenvolvimento humano, matrizes do pensamento psicológico, metodologia, etc., e, por replicarem treinamentos de “coaching” para não-psicólogos, na maioria das vezes entregam e disseminam uma prática psicológica mal estruturada, deformando a integridade da psicologia enquanto ciência e profissão, e abrem o mercado das práticas psicológicas (ora bolas, também temos que defender nosso mercado, nossa prática profissional) para não psicólogos, que passam a dominar rudimentos de técnicas psicológicas.

Foi o tal do “coaching de tudo o quanto há” que criou (copiou) alguns testes psicológicos e os transformou em “testes de desempenho” (ou qualquer outra coisa) e abriu a aplicação para gente que nem ao menos sabe como manipular variáveis estatísticas ou mesmo metodologia qualitativa.

Saiba psicólogo, que quando você deixa de se identificar como PSICÓLOGO(A) e passa a se chamar de coach, você está, de forma ainda que inocente, desfazendo-se de sua formação, indo pelo caminho do modismo, do ecletismo e do instrumentalismo teórico.

BÔNUS: O Conselho Federal de Psicologia (2016), acertadamente, não reconhece o coaching como prática psicológica, e o profissional de psicologia não deve se associar a isto. Fonte: http://site.cfp.org.br/cfp-e-apaf-divulgam-nota-de-esclarecimento-sobre-a-psicologia-do-esporte-coaching-e-sistema-conselhos/

Referências

Abbagnano, N. (2007). Dicionário de Filosofia (5ª Ed.). São Paulo: Martins Fontes.

Berger, P., & Luckmann, T. (1980). A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes.

Conselho Federal de Psicologia (2016). CFP e Apaf divulgam nota de esclarecimento sobre a Psicologia do Esporte e coaching. Extraído no dia 16 de Janeir de 2017, do site: http://site.cfp.org.br/cfp-e-apaf-divulgam-nota-de-esclarecimento-sobre-a-psicologia-do-esporte-coaching-e-sistema-conselhos/

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Sobre o autor:
Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) graduado pela PUC Goiás (Brasil) com período sanduíche na Universidad Católica del Norte (Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (EUA) e Fundación Botín (Espanha), com formações pela Fundação Getúlio Vargas (Brasil), Universidad de Cantabria (Espanha) e Finnovarregio Fondattion (Bélgica). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil). Conselheiro Tesoureiro e Presidente da Comissão Especial de Psicologa Organizacional e do Trabalho do CRP 09.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016


Relacionar-se na atualidade é uma tarefa muito complicada: vemos diariamente casos de separações, brigas, dificuldades de comunicação, traições, incompatibilidade de sonhos e vontades, dentre outras. Parece uma missão quase impossível viver a dois na sociedade em que estamos, quando a falta de respeito, amor e consideração para com o outro tem aumentado e parece não haver solução.

Tudo o que passamos na vida é aprendizado! Sim, aprendemos a falar, a andar, a comer com talheres, a vestir roupas, a andar sobre as duas pernas... essas tarefas são tão simples mas não nascemos com elas, tivemos que aprendê-las. Mas a questão é que tivemos, em muitos momentos da vida, pais, mães, professores, pessoas que nos ensinaram a nos comportar em sociedade, que nos ensinaram matemática, geografia, história, língua portuguesa.

O grande problema é que não fomos ensinados a sentir! Sim, pode parecer estranho em primeiro momento, mas sentimentos também são aprendidos, e o mais grave é que não há uma “escola de sentimentos”, em que podemos ir para aprender a como construir emoções positivas, ou que não nos façam mal. Sentimentos são comportamentos que nascem da interação de três coisas: componentes bioquímicos presentes no organismo (neurotransmissores e hormônios, por exemplo) + a experiência de vida de cada pessoa (história pessoal) + o sistema simbólico que cada pessoa possui (a maneira como cada pessoa vivencia as suas experiências).

Dificilmente falamos de nossos sentimentos, na maioria das vezes somente sentimos, quando não os ignoramos, e essa questão é tão séria que muitas pessoas chegam a passar mal fisicamente por conta de emoções não trabalhadas (o que chamamos de somatização). Não, se você acha que isso é “frescura” está totalmente enganado: só quem já sofreu um ataque de pânico, por exemplo, sabe como as emoções podem afetar o seu corpo, pois o coração fica muito acelerado, os músculos se contraem, a respiração falha, a pressão cai, etc. E existem várias outra possibilidades de sentimentos não tratados que podem prejudicar nossas vidas.

Uma dessas possibilidades é o ciúme: muitas vezes a pessoa vive desconfiada de tudo, não consegue dormir direito, só pensa em coisas negativas, sofre dor no peito, um “nó na garganta”, e acaba tomando decisões e tendo atitudes que são precipitadas e causam sofrimento não só para si, mas para aqueles que a cercam. O ciúme, quando levado ao extremo, pode gerar um relacionamento possessivo e autodestrutivo, pois a pessoa não consegue mais se relacionar de maneira saudável com seu companheiro, gerando um ciclo de brigas, agressões, desconfianças, choro, dentre outras.



Ciúme não é “besteira”, é uma dificuldade psíquica séria para algumas pessoas, e estas perdem em qualidade de vida, tem relacionamentos terminados, e não conseguem viver com prazer com as outras pessoas. Quantas pessoas você conhece que já terminaram um ou vários relacionamento por causa de ciúmes? Muitas vezes a pessoa termina com o companheiro pensando que o problema se resolverá, mas no próximo relacionamento se depara com o mesmo problema, o que pode fazê-la enxergar que o problema pode não estar na relação, mas sim na forma como a própria pessoa vive os seus sentimentos.

Mas ciúmes, assim como qualquer outro sentimento, é também aprendido, e da mesma forma pode ser desaprendido e ressignificado. É possível viver uma vida tranquila, com um relacionamento estável, saudável, duradouro, se a pessoa tiver a capacidade de trabalhar as suas emoções.

Mas como fazer isso? Amigo, não há receita mágica para isso! O que pode-se indicar é um acompanhamento terapêutico para que a pessoa possa compreender como se construiu a dinâmica de seus relacionamentos, e assim ter maiores condições para reaprender a sentir.

Se você se encaixa nesse quadro acima, entre em contato conosco, estamos desenvolvendo um programa especial e a um custo acessível para as pessoas que querem trabalhar a questão do ciúme para ter melhor qualidade de vida nos seus relacionamentos.

Tem interesse? Entre em contato conosco pelo número (62) 98227-9511 (Whatsapp) e pergunte como fazer parte do programa para trabalhar o ciúme! Se você entrar em contato conosco dizendo que leu esse texto, nossa equipe irá lhe dar condições especiais de ingresso no programa, para que você comece imediatamente.
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Imagem: Extraída do Google Imagens

Sobre o autor

Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC Goiás (Brasil), com formação em Terapia de Casais e Famílias pela Universidad Católica del Norte (Chile). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (EUA) e Fundación Botín (Espanha).

sexta-feira, 28 de outubro de 2016


Goiânia hoje concentra a maior quantidade de cursos de graduação em psicologia entre as capitais do Centro-Oeste, sendo sete as Instituições de Ensino Superior a ofertar este curso na cidade. Entre públicas e privadas a oferta de vagas varia entre 35 e 100 vagas por semestre (ou ano). Em média, a partir de 2016, formar-se-ão 300 novos bacharéis psicólogos por ano em Goiânia, o que representa um claro “inchaço” do mercado de trabalho que já está saturado. Mas o que isso representa em termos de empregabilidade?

Com vistas a tentar entender uma provável solução para esta questão que urgirá em breve no meio dos recém-formados é que precisamos tentar entender um pouco a respeito do perfil do psicólogo goianiense. Desde já eu deixo claro, este texto não está baseado em metodologia científica, mas sob as minhas observações cotidianas a respeito do mercado na cidade (uma pesquisa científica sobre isso seria interessante, então, fiquem a vontade).

Um dos campos que mais emprega psicólogos, principalmente os recém-formados é o campo da Psicologia Organizacional, e isso me parece ter um claro motivo: Goiânia é uma cidade com perfil comercial/prestação de serviços. Soma-se isso ao fato de grande parte dos trabalhadores ativos da cidade serem funcionários públicos, e a mesma, por ser capital, concentrar uma grande quantidade de órgãos públicos estaduais, federais e, obviamente, os municipais. O psicólogo que trabalha na psicologia organizacional em Goiânia geralmente está presente em consultorias de Recursos Humanos ou em departamentos de RH de médias e grandes empresas, justamente pelo perfil da cidade. Também existem psicólogos em indústrias, mas o psicólogo organizacional de indústrias parece estar mais concentrado nas cidades de Aparecida de Goiânia e Anápolis, que concentram grandes polos industriais.

Goiânia também é uma cidade que possui muitos hospitais, o que tem aberto espaço para a atuação de Psicólogos Hospitalares. Este serviço começou a existir com maior frequência no setor dos hospitais públicos, como o hospital de urgências, algumas maternidades, e depois passou para outras unidades de saúde. Alguns hospitais particulares já contam com a figura do psicólogo hospitalar, por estarem investindo em atendimento humanizado e em equipes multiprofissionais, embora ainda pareça haver muito o que se caminhar neste quesito.

Salvo raras exceções já vemos a figura do Psicólogo Escolar em Goiânia: algumas escolas particulares já começam a pensar/fazer contratações, mas este ainda é um campo muito grande a ser explorado, e os diretores escolares precisam ainda se conscientizar da importância do psicólogo nas escolas. Ainda existem muito poucos psicólogos escolares na rede pública estadual e municipal em Goiânia, mas não são poucos os esforços para a criação de leis que asseguram a sua presença nestes espaços. Uma coisa que ainda precisa ser ressaltada é a importância de se aprofundarem os estudos e as campanhas para salientar a diferença do trabalho do psicólogo escolar com o psicólogo clínico, pois estes realizam tipos de atendimentos muito diferentes nas escolas, mas a categoria, em um sentido global, ainda não parece estar muito segura sobre este tema.

A grande concentração de tribunais, fóruns e varas em Goiânia faz com que esteja cada vez mais solicitada a presença de Psicólogos Jurídicos na cidade, sejam eles Analistas-Técnicos Judiciários concursados pelo judiciário, ou peritos judiciais. Em ambos os casos, é ainda uma área um pouco restrita na cidade, que está se abrindo cada vez mais com a valorização do trabalho do psicólogo neste setor. Especialmente os casos de família, infância e adolescência parecem estar recebendo maior atenção a cada dia que passa, pois o papel do psicólogo mediador, conciliador e educador neste meio tem auxiliado a desonerar o poder judiciário que anda cada vez mais sobrecarregado.

Outro campo importante de trabalho e atuação do psicólogo em Goiânia tem sido o dos Psicólogos Na Assistência Social: o psicólogo tem sido solicitado a estar nos CRAS, CREAS, Casas de Acolhidas e demais órgãos que trabalham neste setor. Os caminhos para se ingressar neste setor tem sido, via de regras, concurso público ou contratação em cargos comissionados (que dependem de indicações políticas na grande maioria das vezes). É um setor em ascensão mas que ainda luta contra as precariedades e sucateamento da máquina pública.

Goiânia também concentra um grande número de Psicólogos Do Trânsito, que trabalham na maioria das vezes no processo de Avaliação Psicológica para expedição de CNH. Esse profissional, por sua vez, precisa possuir uma especialização na área e depender da abertura de processo de cadastramento do DETRAN, que muitas vezes não consegue suportar a quantidade de interessados. Neste sentido, apesar de existir uma série de dificuldades na área, também parece ser uma área com possibilidades interessantes de trabalho.

E eu não poderia deixar de terminar este texto sem falar dos Psicólogos Clínicos que tem trabalhado como empresários através da montagem de pessoas jurídicas ou como profissionais liberais (autônomos). Ambos os casos envolvem intensa preparação para lidar com os desafios de um mercado de trabalho incerto pois neste caso, em se tratando de rendimentos, a pessoa passa a não ter um salário fixo, mas a depender do fluxo de clientes que muitas vezes podem demorar anos para se estabilizar. De todas as formas, é uma possibilidade interessante para quem deseja continuar estudando muito e gosta de desafios.

Tem alguma coisa que esqueci ou que me enganei? Me escreva nos comentários abaixo que vamos editando o texto, afinal se tratam das minhas percepções, e estas podem ser melhoradas em contato com as suas! Dúvidas? Escreva-as e tentarei responder.

Um abraço!


Imagem: Extraída do Google Imagens

Sobre o autor: Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) graduado pela PUC Goiás (Brasil), com formação em Terapia de Casais e Famílias pela Universidad Católica del Norte (Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados Unidos) e Fundación Botín (Espanha). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil).